Arquivo do CitadinoKane: Posts antigos revisitados, música, livros & curiosidades.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Homem Medíocre


Post publicado no Blog do Pedro Nelito em  07/03/06.


Aurea Mediocritas? por José Ingenieros

"Há uma hora em que o pastor ingênuo se assusta com a natureza que o envolve. A penumbra se espessa, a cor das coisas se reduz ao cinza homogêneo das silhuetas, a primeira umidade crepuscular levanta de todas as ervas um vapor de perfume, o rebanho se aquieta para dormir, o sino distante tange seu aviso vesperal. A impalpável claridade lunar se torna alva ao cair sobre as coisas, algumas estrelas de um arroio oculto nas brenhas parece falar de misteriosos temas. Sentado na pedra menos áspera que encontra à beira do caminho, o pastor contempla e se cala, inutilmente convidado a meditar sobre a convergência do lugar e da hora. Sua admiração primitiva não passa de espanto. A poesia natural que o envolve, ao refletir-se em sua imaginação, não se converte em poema. Ele é apenas um objeto, um quadro, uma pincelada; um acidente na penumbra. Para ele todas as coisas sempre foram assim e contuarão sendo, da terra que pisa até o rebanho que apascenta.
A imensa massa de homens pensa com a cabeça desse ingênuo pastor; não entenderia o idioma de alguém que lhe explicasse algum mistério do universo ou da vida, a evolução eterna do conhecimento, a possibilidade de aperfeiçoamento humano na contínua adaptação do homem à natureza. Para conceber uma perfeição é preciso um certo nível ético e é indispensável alguma educação intelectual. Sem isso, pode-se ter fanatismo e superstições; ideais, nunca.
Os que vivem abaixo desse nível e não adquirem essa educação permanecem sujeitos a dogmas impostos por outros, escravos de fórmulas paralisadas pela ferrugem do tempo. Suas rotinas e preconceitos parecem eternamente invariáveis; sua obtusa imaginação não concebe perfeições passadas ou futuras. O estreito horizonte de sua experiência constitui o inevitável limite de sua mente. Encontrarão nos outros uma fagulha capaz de acender suas paixões; serão possivelmente sectários. E não perceberão sequer a ironia dos que os convidam a se juntar em nome de ideais que podem seguir, mas não compreendem. Todo sonho seguido por multidões é pensado apenas pelos poucos visionários que são seus amos."

O texto acima nos revela de forma poética o quanto o ser humano tem que caminhar para alcançar uma vida decente, superando a miopia imposta pelas várias ideologias... que fetichizam a vida, carnavalizando-a...
É isso aí.

sábado, 26 de junho de 2010

Shakespeare Apaixonante!


Post publicado em 30/04/1996. Republicamos para homenagear a arte.
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William Shakespeare, geralmente considerado o maior dramaturgo dos tempos modernos, nasceu em Stratford-on-Avon, Inglaterra, no dia 23 de abril de 1564, e morreu no mesmo dia e lugar em 1616. A sua vida foi bastante registrada em várias fontes, entretanto, sobre a sua infância, sabe-se muito pouco.
Em 1591, elaborou seu primeiro drama histórico: Henrique IV. Seguiram-se muitos outros, destacam-se Ricardo III, O Mercador de Veneza, Romeu e Julieta...
Para homenagear a todos que visitam o blog, um trecho de Romeu e Julieta, para desatar o nó romântico que às vezes atrapalha a vida do pobre mortal... Só o amor para revelar o melhor que temos, segue o excerto:

Julieta – Somente teu nome é meu inimigo. Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que é um Montecchio? Não é mão, nem pé, nem braço, nem rosto, nem outra parte qualquer pertencente a um homem. Oh! Sê outro nome! Que há em um nome? O que chamamos de rosa, com outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável; e assim, Romeu, se não se chamasse Romeu, conservaria essa cara perfeição que possui sem o título. Romeu, despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me toda inteira!
Romeu – Tomo-te a palavra. Chama-me somente “amor” e serei de novo batizado. Daqui para diante, jamais serei Romeu.”(p.42)*

*A editora Nova Cultural lançou em 1993 as Tragédias de Shakespeare, contendo: Romeu e Julieta; MacBeth; Hamlet, Príncipe da Dinamarca; Otelo, o Mouro de Veneza.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Almino Henrique - CD PRETOS.

O Almino Henrique é um grande compositor e cantor. O post abaixo é de 24/02/2006.
A capa do CD Pretos de Almino.


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Almino Henrique, músico & compositor, desta feita cantando em todas as faixas do seu CD - ALMINO PRETOS, simplesmente excelente!
A primeira faixa É DO TAMBOR só com percussão e vocal, sendo que nos atabaques o conhecido da MPB - Robertinho Silva, esta faixa lembra Waldemar Henrique nas incursões pelos Terreiros de Umbanda, o resultado é muito legal... Imperdível a terceira faixa MANGA CONCRETA com os arranjos de metais e o baixo de Ney Conceição, esta música foi hit na rádio FM CULTURA, Manga que lambuza a boca, manga que não é a da sua roupa... até o caroço, até com febre, até do morto... não manga de mim...
Escutar Almino Henrique, como diria a propaganda de uma empresa de celular, é uma delícia... Produção impecável, com capa e encarte bem trabalhado, fotografias de Walda Marques e projeto gráfico de Andréa Pinheiro (ela é também cantora).
Onde encontrar o disco? Na loja Ná Figueiredo e CD Store.
É isso aí.

O suicídio segundo Marx

Seguindo a proposta do Arquivo, estou republicando o post de 13/04/2006.
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Resolvi reproduzir parte de artigo publicado no Jornal O Estado de São Paulo de 11/3/2006 sobre o livro de Marx.

"O suicídio segundo Marx e a Polícia

Ainda jovem, ele estudou o tema a partir de pesquisas de um arquivista policial e seu ensaio é uma das atrações da 19.ª Bienal, by Sérgio Augusto

Aquilo que Albert Camus qualificou de "o único problema filosófico realmente sério" acaba de ganhar, entre nós, um surpreendente exegeta: ninguém menos que Karl Marx (1818-1883). Quando jovem, relativamente fresco em filosofia, interessou-se pela questão do suicídio e tentou destrinchá-la a partir das estatísticas de um ex-arquivista da polícia parisiense. O ensaio resultante, Peuchet: vom Selbstmord, foi publicado em 1846, numa revista proletária alemã, e por quase um século andou esquecido. Até na Alemanha.
Sua tradução brasileira (Sobre o Suicídio, 84 págs.), feita diretamente do alemão e uma das atrações da editora Boitempo na Bienal do Livro de São Paulo, é melhor que a francesa (de 1983, pela Gallimard) e tem mais notas que a inglesa (de 1975), igualando-se às que franceses e ingleses publicaram em 1992 e 1999, respectivamente.
É um "Marx insólito", resume, na introdução, Michael Löwy. É mesmo. Na escolha do tema, aparentemente fora da alçada do materialismo dialético, e na maneira como o xamã do comunismo o aborda, sem desprezar as vítimas das classes privilegiadas. Ao perscrutar as angústias da vida privada, mediada pelas relações de classe na sociedade burguesa, Marx antecipa temas que voltaram a ser destaque nesta semana, como a opressão da mulher e o direito ao aborto.
Sem falar, é claro, na questão principal, o suicídio ("Selbstmord", em alemão), assunto sempre atual e particularmente melindroso, de uns tempos para cá, entre os militares brasileiros - e que Marx teria sentido na própria carne, caso tivesse vivido mais 15 anos. Em 1898, sua filha caçula, Eleanor, cometeu o que há 15 séculos a Igreja, inspirada por Santo Agostinho, enquadrou na categoria de pecado mortal.
O "Peuchet" do título original é o sobrenome de Jacques Peuchet, o francês de cujas estatísticas sobre suicídios (2808, só em Paris, entre 1817 e 1824) Marx se valeu para refletir sobre o que Freud entendia como uma agressão introjetada e Nietzsche, como um grande consolo para noites difíceis. Peuchet, que morreu em 1830 aos 72 anos, não era filósofo, nem economista, e muito menos socialista. Estudara medicina, dirigira um jornal monarquista e exercera vários cargos públicos, entre os quais o de arquivista policial. Já não estava mais neste mundo havia oito anos quando publicaram as suas Mémoires Tirés des Archives de la Police de Paris, coleção informal de incidentes e episódios ligados a suicídios, seguidos de alguns comentários dignos de um perspicaz crítico social, que Marx aproveitou e misturou aos seus.
Na Paris daquele tempo, a maioria das pessoas se suicidava por motivos que ainda hoje pesam: doenças, depressão, fraqueza de espírito, paixão, miséria, desemprego, brigas e desgostos domésticos. E, preferencialmente, por afogamento, quase sempre no rio Sena.
Um dos casos recolhidos por Peuchet teria inspirado O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, por sinal, um dos livros de cabeceira de Marx. Esse detalhe não consta do ensaio, cuja origem (as memórias de um policial, ainda por cima monarquista) só parecerá espúria a quem não conhece Marx suficientemente bem; a quem desconhece que ele não achava imprescindível ser socialista para criticar a ordem estabelecida; a quem ignora que ele aprendeu muito mais sobre a sociedade francesa na ficção de Balzac, de Eugène Sue, e muito mais sobre a sociedade inglesa lendo Charles Dickens do que gramando tomos e mais tomos de análises políticas, econômicas e sociológicas.
O que mais o entusiasmou nos comentários de Peuchet foi sua concepção do suicídio como sintoma de um meio social doente, necessitado de uma transformação radical. A sociedade burguesa, escreve Marx, citando Peuchet, que, por sua vez, cita Rousseau, "é um deserto, habitado por bestas selvagens". Cada indivíduo, isolado dos demais, vive numa espécie de "solidão em massa". As pessoas agem entre si como estranhas, hostilizando-se mutuamente, metidas em "luta e competição impiedosas", ora como vítimas, ora como carrascos, caminho aberto para o desespero, o desatino - e o suicídio.
Desgraça democrática, a ela estão sujeitas todas as classes sociais. As causas variam (os mais abastados se deixam atormentar mais por doenças incuráveis, traições, rivalidades sufocantes, desilusões amorosas, sofrimentos familiares, crise nos negócios, tédio e monotonia), mas a censura ao ato é tão uniforme quanto a insensibilidade dos moralistas que o condenam como algo antinatural, um sinal de fraqueza, um gesto covarde, um crime contra as leis, a sociedade e a honra. "Não é com insultos aos mortos que se enfrenta uma questão tão controversa", adverte Marx.
Antinatural o suicídio não é. Se o fosse, argumenta Marx, não seríamos testemunhas diárias de sua naturalidade. Poderia ter ressaltado o aspecto prometéico do suicídio - que o transfigura num ato de coragem e num desafio à natureza e à autoridade divina -, mas preferiu criticar a Igreja por outras vias. Para ele, o clero que recusa aos suicidas uma sepultura e um lugar nas verdes pastagens do Senhor não merece ser chamado de religioso. Insensível e covarde, sim. Com que direito podemos exigir do indivíduo "que preserve em si mesmo uma existência que é espezinhada por nossos hábitos mais corriqueiros, nossos preconceitos, nossas leis e nossos costumes em geral?", pergunta o jovem Karl, do alto dos seus 28 anos de vida.
(...)
Nas últimas três décadas, a onda não refluiu. O teórico marxista Nicos Poulantzas (nascido na Grécia mas francês por opção) atirou-se do 22º andar de uma torre parisiense, em 1979. Dizendo-se "velho, vexado e humilhado", Roger Stéphane, discípulo de Gide, deu um basta às suas aflições em 1994. Nos anos seguintes, Gilles Deleuze, o situacionista Guy Debord e Sarah Kofman (austera filósofa ligada a Jacques Derrida) entraram para o limbo dos malditos onde penam as almas de Sócrates, Petrônio, Cleópatra, Van Gogh, Mayakovsky, Virginia Woolf, Hemingway, Sylvia Plath, Getúlio Vargas, Yukio Mishima e tantas outras exceções que justificam a regra de que francês adora se matar. Também foi por isso que Emma Bovary tornou-se a mais célebre heroína ficcional da França."

Maurício Leal Dias, como um bom marxista, deve correr para o site da Livraria Cultura e solicitar imediatamente o seu exemplar.
Aos saudosistas estrelados uma boa Páscoa!
Nada de desespero, basta ler Marx, e os vossos corações se acalmarão...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ensinar a criança a gostar de ler

Post de 6/03/2006
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O blog tem alunos e amigos que são pais e mães dedicados aos seus rebentos, daí a dica sobre um livro que caiu em nossas mãos como se fosse uma rosa que a cada leitura desabrochava as suas lindas pétalas, liberando um perfume que impregna toda nossa alma...
Aos amigos Bruno, Rogério Friza e todos que se esforçam por preparar a futura geração.
O educador Celso Antunes, autor de mais de 180 livros didáticos e paradidáticos, mais de 300 artigos, crônicas e ensaios sobre temas educacionais e cerca de 50 obras pedagógicas sobre diversos temas, escreveu em 2005 um livro singelo - "A linguagem do afeto: como ensinar virtudes e transmitir valores", editora Papirus; o livro é um guia que mostra aos pais e professores como é fácil e imprescindível ensinar às crianças a importância do bom humor, da valentia, da preservação ambiental, da generosidade e de muitos outros valores.

O supracitado educador relata "Pais que gostam de ler adoram quando seus filhos devoram livros; pais que não gostam de ler ficam admirados quando seus filhos demonstram gosto pela leitura. Crianças ricas são fascinantes quando se mostram encantadas pelo hábito de ler e nada é mais doce que observar crianças pobres descobrindo a biblioteca." Continua o educador perguntando "É possível ensinar uma criança a gostar de ler?"
O autor observa que nossos hábitos, bons ou maus, são sempre adquiridos. As pessoas nascem com esta ou aquela característica física, a carga genética responde pela escultura do corpo e em parte pela potencialidade da mente, mas o desenvolvimento de gostos ou hábitos - como, por exemplo, o hábito de ler - é sempre uma característica aprendida.
Para Celso Antunes, se desejarmos que as crianças amem a leitura, é essencial que esse estímulo seja carregado de intencionalidade.
E como fazer?
A palavra-chave para desenvolver na criança o gosto pela leitura é intencionalidade. Essa palavra se opõe a acidentalidade e, dessa maneira, descobre-se que é essencial que pais e professores mostrem forte intenção em despertar nos filhos e nos alunos o gosto pela leitura.
A intencionalidade necessita vir acompanhada de "procedimentos" que, materializando as intenções, possam torná-las efetivas. E parece não haver melhor maneira de desenvolver hábitos em relação à leitura do que criar um ritual próprio, isto é, fazer desses hábitos uma rotina, desenvolvendo-os quase como um conjunto de regras a ser seguido de forma sistemática.
Uma dessas regras é habituar-se a ler próximo à criança, fazendo com que ela perceba o quanto você gosta da leitura. Chamá-la vez por outra para mostrar uma foto, comentar uma informação, "esmiuçar" uma notícia que pode interessá-la. Qualquer livro que se esteja lendo, ou mesmo um jornal, pode servir para esse gostoso "compartilhar".
Para fechar, outra regra simples é, sempre que possível, contar histórias para a criança, recheando-as de questões que exijam sua opinião. Mesmo quando se conhece uma história de cor, ainda assim é interessante abrir um livro e demonstrar que livros são lugares que guardam histórias, segredos, mistérios, surpresas, risos etc.
O legal é comprar o livro e sempre que possível sentar e ler com muita calma, vale o esforço...
É isso aí.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Abertura!

Post publicado em 03/04/2006.
Que Deus nos livre dos ditadores de plantão!
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"É para abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento!" (Presidente João Figueiredo, em 1978, confirmando a abertura política do seu governo e externando sua visão singular de democracia.)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tem português no samba: Luís Represas!

Escutar o CD "Navegar é Preciso" de Luís Represas é uma delícia!
O cantor e compositor português Luís Represas surpreende cantando o samba de Adoniran Barbosa "Apaga o fogo Mané", o sotaque lusitano dizendo: - O que Inez me fez não se faz...  Ficou impagável, bom mesmo!
Cabe aqui a observação, depois de Adoniran fazer esse samba, "Mané" virou sinônimo de otário....
A Inez saiu para fazer compras e manda o Mané acender o fogão e depois some, o Mané ficou desesperado e saiu procurando a Inez em todo lugar, quando retornou para casa tinha um bilhete perto do fogão, dizendo: - Pode apagar o fogo Mané(otário) que eu não volto mais...
A partir daí todo Mané no Brasil carrega essa gozação.
Além de suas composições, Represas canta Martinho da Vila (Viajando), Dorival Caymmi (Oração de Mãe Menininha), Herbert Viana (Meu Erro) e Paulinho da Viola (Sinal Fechado) um clássico da MPB.
A produção foi de Martinho da Vila e Marco Mazzola.
O CD saiu pelo selo MZA Music.
Maiores informações:
www.mzamusic.com.br
www.luisrepresas.com